II Carta Fiscalização Igarapé Baunilha

21 de março de 2021, Aldeia Restinga, Território Munduruku

Estamos na terceira etapa de fiscalização de nosso território neste ano de 2021. Desde o dia 14 de março estamos enfrentando grupos armados de garimpeiros aliciados pelos Pariwat (branco). Hoje dia 21 de março sabemos quem são esses pariwat e todos os planos deles.
Exigimos que os órgãos federais cumpram com seus deveres constitucionais urgentemente. Se algo acontecer com nosso povo responsabilizamos o estado brasileiro que mesmo depois de diversas denúncias de invasões e destruições do no território no meio de uma pandemia, não age e deixa nosso povo ser morto sob mãos de uma quadrilha criminosa fortemente armada, aliado com meia dúzia de indígenas envolvido com atividade de garimpos.
Ontem, dia 20 de março, lideranças da aldeia Restinga foram apresentar para os garimpeiros nossa decisão, sobre sermos contra a invasão garimpeira nessa região. Foi decidido pelos caciques: “A máquina a máquina retroescavadeira (Pc) é para ser retirado com urgência”.
Foram conversar com outros parentes da Aldeia Santo Antônio que estavam sendo aliciados. Eles que foram um dos únicos que apoiaram a entrada da máquina na região, vendo armamento pesado que os garimpeiros possuíam e o uso constantes de entorpecentes desistiram e pediram para eles saírem e irem embora. Disse que já tinham retirado a máquina e ela estava agora na comunidade Colares e que estavam indo agora para aldeia Prainha, na mesma região. Já estariam iniciando a exploração no nosso igarapé Baunilha. Descobrimos também que ainda estão vindo duas máquinas a mais, uma do Marrom para aldeia Samaúma e uma do Torrão para aldeia Missão Velha do rio Cururu.
Sabemos que o pequeno grupo de conhecidos Munduruku que estão aliciando outros caciques, estão todos armados, usam drogas e ainda usam bombas granadas para atacar nossos guerreiros. Querem fazer o mal para quem é contra a invasão garimpeira. São contra nossas associações que lutam pelo povo e contam mentiras sobre as lideranças de luta, estão agindo de forma criminosa com intimidação, agressão física e outras formas de violência, igual aos pariwat.
Sabemos que tem muitos pariwat por trás dessa equipe de aliciadores. O dono da máquina foi identificado como “Polaquinho”, está oferecendo estes armamentos para nos atacar, ele reside em Itaituba. Ele tem três balsa para transportar a máquina para nossa área, tem dois helicópteros que pousam no munícipio de Jacareacanga na frente da Barraca Chipaya.
Somos contra a entrada de máquinas retroescavadeiras. Os pariwat colocam nosso povo para se matar enquanto nossas crianças vão cada dia mais perdendo a possibilidade de viver no futuro, pois está tudo sendo poluído e desmatado. Essa é a tática deles, querem que nos matem para acabarem com nosso território.
Não vamos aceitar isso. Vamos lutar até o final.
Portanto nós caciques, lideranças, professores e organizações: Vivaldo Kirixi- cacique da aldeia Missão Cururu, Venâncio Kirixi- cacique da aldeia Nova Tapajós, Raimundo Waro – cacique da aldeia Warobaxewatpu, Gilson Karo- cacique da aldeia Karobaxebu, cacique Lamberto Paigõ- Cacique da aldeia Restinga, Miguel Borõ- vice cacique da aldeia Caroçal Cururu, Francisco Borõ- cacique na aldeia Espírito Santo, Geraldo Dace cacique da aldeia Saw Muybu, os demais caciques, lideranças das organizações: Movimento Munduruku Ipereg Ayu, Conselho Indígena do Alto Tapajós-CIMAT, Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn, Associação Da’uk, Associação dos professores Arikico.
Exigimos que as autoridades prendam toda a quadrilha envolvida, principalmente os que comandam essa organização, que sejam punidos imediatamente e que suas máquinas sejam retiradas do nosso território e apreendidas.
Pedimos urgência da operação da Polícia Federal em nosso território Mundurukânia para resolver de uma vez por todas a questão dos invasores garimpeiros, criminosos que estão acabando com nossas noites de sono e com a saúde de nossas famílias.